Lembro-me de ter lido, em algum artigo de revista, que o processo evolutivo fez o homem guardar contextos, mais do que números e dados objetivos. A partir disso, imediatamente entendemos porque nossa memória é tão arisca com os detalhes e com a matemática; e porque partimos tão avidamente na jornada diária de estabelecer padrões gerais, que usamos paraexplicar e julgar os fenômenos e objetos a nossa volta. E nosso julgamento é implacável. Nós nos amarramos a nossos contextos gerais como o naufrago ao bote. Para ex-símios recém-saídos das cavernas até que nos demos bem com isso. Usamos nossa super-percepção de contextos para criar tecnologias, linguagem, arte e progresso. Criamos sociedades inteiras baseadas em princípios gerais. Aprendemos que "o que importa é a mensagem e não a linguagem", "o processo e não o produto", e isso não foi ruim. No entanto, me pergunto qual espaço é legado à realidade dos números, ao método científico, ao ceticismo e ao conhecimento exato.
O pensamento dominante tem nos ensinado que o importante é ver o macro, e convenientemente há sempre alguém (alguém que se preocupou com os números e detalhes) para nos dizer qual macro é esse, e nos direcionar para o princípio geral que deverá ser percebido. Em uma comunidade, quem detém o conhecimento científico ou o poder político-econômico ganha o direito de impor suas generalizações. Paralelamente, autoridades políticas, acadêmicas e familiares impõem para nós seus macro-conceitos e idéias gerais já em nossa primeira infância. Assim, crescemos absolutamente crédulos e pouco questionadores de contextos que imaginamos já entender por completo.
Precisamos começar a injetar em nossa rotina uma meticulosa suspeita em relação às generalidades que repetimos e reforçamos. Quem só conhece contextos tem apenas uma percepção superficial da realidade. É preciso tentar mensurar subjetividades e se perguntar as vezes : “Por que tenho essa crença sobre esse determinado assunto? Quando ela começou? Esse caso específico se aplica a essa crença geral que tenho?”. Sim, o sujeito é subjetivo, mas também se sujeita às sujeições do mundo físico em que vivemos, com seus complexos postulados que não se compreende só com contextualizações. Saimos da caverna, mas falta abandonar seu mito.
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